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quarta-feira, novembro 29, 2006



Desperdiçamos nossas palavras e as lembranças já não bastam para que fiquemos longe do silêncio e da frieza entre essas quatro paredes. Por algum tempo ao seu lado, tudo parecia possível, numa época onde não havia segredos e entendíamo-nos apenas com um olhar.
As palavras eram profundas e densas, quando havia silêncio, era algo acalentador e sentia-me segura, recostada em teu peito amoroso. Agora as palavras estão gastas, puídas, incolores, sem sentido e o silêncio soa aflito, ansioso pelo fim.
Tínhamos um diferencial cotidiano, que de algum modo nos livrava da rotina, os cafés da manhã eram recheados de alegria e cumplicidade.
Muitas vezes tolerávamos pequenos erros, numa tentativa afetuosa de preservar algo intocado. Agora, parece-me que administramos-nos em doses homeopáticas, como se prescritas e recomendáveis para casos extremos de rejeição mútua, somos alérgicos um ao outro.
Acabou, hoje me deparei com o fim e sem nenhum desejo saudoso, despedi-me.
Finalmente, entendi que teu sorriso é como de todos os outros que já amei, que teu corpo é como tantos outros que já toquei.
Consegui dizer-te pela primeira e última vez, “Adeus”.

quarta-feira, novembro 22, 2006

Sobre a felicidade


“Porque as mulheres almejam tanto o casamento?”, essa foi uma pergunta feita por meu marido há algum tempo atrás, lancei meu pensamento para tentar entender os motivos que levam muitas das mulheres a pensar que no casamento reside a felicidade e que no outro habita sua complementação, o sentido da felicidade.

É um tema polêmico, pois virão as feministas e dirão, isso é um pensamento machista. E talvez os machistas concordem que as mulheres querem mesmo é casar. Mas não restringirei meu pensamento aos homens e às mulheres. Vou falar apenas de minha conclusão subjetiva e muito pessoal sobre o assunto.

Desde menina fui embalada por contos de fadas que descreviam sempre protagonistas femininas, que sofriam por serem perseguidas, atormentadas pelas maldades das antagonistas, na maioria femininas também e eram salvas por príncipes encantados.

No fim das histórias imperava a frase: “casaram e foram felizes para sempre”.

Ora, então meu subconsciente guardou essa frase como verdadeira, eu por muito tempo acreditei que ao me casar, todos os meus problemas sumiriam, num passe de mágica e seria feliz para sempre. Esperava que viesse de um homem a solução de todos os meus sofrimentos, que o amor superava tudo, etc. Essas baboseiras românticas que já estão fora de moda há tempos.

Agora sei porque as meninas são presenteadas com bonecas, mini panelas, mini vassouras, somos treinadas, eficientemente adestradas por nossas mães zelosas.

Já os meninos sempre ficam com os melhores brinquedos, vídeo game, carrinho de controle remoto, bicicletas, bolas, espingardas de chumbo. Sei que eu vivia brincando de estilingue, biloca, rouba latinha, bete, contra a vontade de minha mãe, é claro, por que isso não era brinquedo de menina. Menina tem que ser boa dona de casa e na nova era, a que não cuida de casa e trabalha fora está fora de moda, é obsoleta.

Aliás, aos meninos quase tudo era permitido, só chorar como “mulherzinha” que não podia.

Daí a gente entra a adolescência achando que não passar maquiagem e ser a dona de casa perfeita é tudo que os homens querem, nos tornamos a mocinha perfeita pra casar, aquela que não tem boca suja, que não fala palavrão, que sabe se calar enquanto mandam nela, tudo para obter a aceitação social.

Fiz de tudo pra me adaptar, respeitei todas as regras de conveniência que me eram impostas, menos as sexuais, é claro. Fingia-me de vítima e na hora de me confessar, como boa católica apostólica romana, passava horas me divertindo com a cara do padre, que sempre me mandava rezar intermináveis rosários, imagine quão grandes eram meus pecados.

Quando saí de casa, no auge dos meus dezessete anos, para ingressar na faculdade de letras, entendi que a vida era mais que um namorado super protetor e ciumento. Era mais que me divertir com a cara do padre.

Cansei de ser tratada como demente, burra ou inferior, por que é assim que somos vistas pela sociedade, como menores que os homens. Resolvi me afastar de muita gente que me tomava por outra, por alguém que não sou.

Conheci Virgínia Woolf, Simone de Beauvouir, Sylvia Plath, Hilda Hilst, Lou Salomé e Anaïs Nin, minhas eternas professoras. Com elas aprendi o essencial para me proteger dessa sociedade machista em que vivemos, uns irão dizer que as coisas estão mudando, o que não é verdade. O papel da mulher na sociedade mudou sim, as condições para quem quer ser emancipada são melhores, mas temos que trabalhar dobrado, jornada tripla de trabalho, filhos, casa, vida profissional. Sem contar que o salário da mulher é em média vinte por cento menor, em relação ao de um homem com mesma formação e cargo.

Por sorte abri os olhos, estudar história, isso esclareceu muitas nebulosidades em minha vida. Entender que não reside no outro todas as suas expectativas, saber mais sobre o ser humano foi importante em meu desenvolvimento pessoal . Casei sim, mas sabendo das agruras que poderia viver, casamento este entre duas pessoas de carne e osso. Não dois personagens de conto de fadas, que numa hora o mundo está contra eles e em outra o universo conspira ao seu favor.

Hoje, Sartre, Heidegger, Kierkegaard me abriram muitas portas, e me fizeram me encarar melhor nos espelhos de mim mesma.

Sou mulher, balzaquiana, mãe e esposa, por hora satisfeita com meus múltiplos papéis, mas com grandes possibilidades de crescimento, pois não me sinto estagnada. Ainda me pego dissimulando, fazendo-me de desentendida, descobri que é melhor assim, ser apenas o que esperam de você. Mas tenho meus rompantes de realidade extrema e de existencialismo gritante e pertinente e quando resolvo, sai de baixo que sou diabólica!

Para minha filha já digo sempre que todos temos defeitos e que príncipes encantados estão enclausurados em histórias de ficção.

Abaixo os contos de fada e viva a vida como ela é!



sexta-feira, outubro 20, 2006

Nego-me

Nego-me a acreditar que tudo acontece da pior maneira, o que sei é que tudo, sem nenhuma exceção à regra, é inevitável. E se foram os anéis, e é melhor encarar que se foram os dedos também, por que mais digno é dizer que os dedos se vão e nos sobram apenas os anéis, que nada valem sem os dedos."Anel de brilhante no dedo de minha avó". Para mim, minha avó e seus dedos valem mais que o anel, mas ela se foi, e o deixou de herança. Estou com ele sempre o que só me faz lembrar, todos os dias, que como minha avó, eu também irei.

sábado, outubro 07, 2006


Bala de menta
Aplaca o hálito
Aço troca o hábito
Frio
Vazio
Inferno
Tormenta
Do aço e da menta
Em minha garganta
Em fios doces e rubros
Descem, bailam...
Em meu pescoço
E colo
Tormenta
Enfrenta-me
Adentra-me
A dor sincera
Anulação sincera
Silencia-me
Aquieta-me
Bala de aço
Aço de menta
Tormenta
Contenda
Morte lenta.

Convido você leitor, para que visite meu blog de poesia: