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quarta-feira, novembro 22, 2006

Sobre a felicidade


“Porque as mulheres almejam tanto o casamento?”, essa foi uma pergunta feita por meu marido há algum tempo atrás, lancei meu pensamento para tentar entender os motivos que levam muitas das mulheres a pensar que no casamento reside a felicidade e que no outro habita sua complementação, o sentido da felicidade.

É um tema polêmico, pois virão as feministas e dirão, isso é um pensamento machista. E talvez os machistas concordem que as mulheres querem mesmo é casar. Mas não restringirei meu pensamento aos homens e às mulheres. Vou falar apenas de minha conclusão subjetiva e muito pessoal sobre o assunto.

Desde menina fui embalada por contos de fadas que descreviam sempre protagonistas femininas, que sofriam por serem perseguidas, atormentadas pelas maldades das antagonistas, na maioria femininas também e eram salvas por príncipes encantados.

No fim das histórias imperava a frase: “casaram e foram felizes para sempre”.

Ora, então meu subconsciente guardou essa frase como verdadeira, eu por muito tempo acreditei que ao me casar, todos os meus problemas sumiriam, num passe de mágica e seria feliz para sempre. Esperava que viesse de um homem a solução de todos os meus sofrimentos, que o amor superava tudo, etc. Essas baboseiras românticas que já estão fora de moda há tempos.

Agora sei porque as meninas são presenteadas com bonecas, mini panelas, mini vassouras, somos treinadas, eficientemente adestradas por nossas mães zelosas.

Já os meninos sempre ficam com os melhores brinquedos, vídeo game, carrinho de controle remoto, bicicletas, bolas, espingardas de chumbo. Sei que eu vivia brincando de estilingue, biloca, rouba latinha, bete, contra a vontade de minha mãe, é claro, por que isso não era brinquedo de menina. Menina tem que ser boa dona de casa e na nova era, a que não cuida de casa e trabalha fora está fora de moda, é obsoleta.

Aliás, aos meninos quase tudo era permitido, só chorar como “mulherzinha” que não podia.

Daí a gente entra a adolescência achando que não passar maquiagem e ser a dona de casa perfeita é tudo que os homens querem, nos tornamos a mocinha perfeita pra casar, aquela que não tem boca suja, que não fala palavrão, que sabe se calar enquanto mandam nela, tudo para obter a aceitação social.

Fiz de tudo pra me adaptar, respeitei todas as regras de conveniência que me eram impostas, menos as sexuais, é claro. Fingia-me de vítima e na hora de me confessar, como boa católica apostólica romana, passava horas me divertindo com a cara do padre, que sempre me mandava rezar intermináveis rosários, imagine quão grandes eram meus pecados.

Quando saí de casa, no auge dos meus dezessete anos, para ingressar na faculdade de letras, entendi que a vida era mais que um namorado super protetor e ciumento. Era mais que me divertir com a cara do padre.

Cansei de ser tratada como demente, burra ou inferior, por que é assim que somos vistas pela sociedade, como menores que os homens. Resolvi me afastar de muita gente que me tomava por outra, por alguém que não sou.

Conheci Virgínia Woolf, Simone de Beauvouir, Sylvia Plath, Hilda Hilst, Lou Salomé e Anaïs Nin, minhas eternas professoras. Com elas aprendi o essencial para me proteger dessa sociedade machista em que vivemos, uns irão dizer que as coisas estão mudando, o que não é verdade. O papel da mulher na sociedade mudou sim, as condições para quem quer ser emancipada são melhores, mas temos que trabalhar dobrado, jornada tripla de trabalho, filhos, casa, vida profissional. Sem contar que o salário da mulher é em média vinte por cento menor, em relação ao de um homem com mesma formação e cargo.

Por sorte abri os olhos, estudar história, isso esclareceu muitas nebulosidades em minha vida. Entender que não reside no outro todas as suas expectativas, saber mais sobre o ser humano foi importante em meu desenvolvimento pessoal . Casei sim, mas sabendo das agruras que poderia viver, casamento este entre duas pessoas de carne e osso. Não dois personagens de conto de fadas, que numa hora o mundo está contra eles e em outra o universo conspira ao seu favor.

Hoje, Sartre, Heidegger, Kierkegaard me abriram muitas portas, e me fizeram me encarar melhor nos espelhos de mim mesma.

Sou mulher, balzaquiana, mãe e esposa, por hora satisfeita com meus múltiplos papéis, mas com grandes possibilidades de crescimento, pois não me sinto estagnada. Ainda me pego dissimulando, fazendo-me de desentendida, descobri que é melhor assim, ser apenas o que esperam de você. Mas tenho meus rompantes de realidade extrema e de existencialismo gritante e pertinente e quando resolvo, sai de baixo que sou diabólica!

Para minha filha já digo sempre que todos temos defeitos e que príncipes encantados estão enclausurados em histórias de ficção.

Abaixo os contos de fada e viva a vida como ela é!



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