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terça-feira, maio 15, 2007

Baudelaire

Baudelaire,
Seus paraísos criaram nódoas, suas flores murcharam, sua voz se calou um ano antes de seu coração.
Dorme, Baudelaire! Dorme, meu amado!
Quem sabe cubram-te com um manto de papoulas e você as coma em segredo!
Seguirei amando lhe por mais cento e quarenta anos!

sexta-feira, maio 11, 2007

Insulto

Insulto

Não sei dizer se todo escritor sente o que sinto, e até por saber que as visões são subjetivas vou retratar meu sentimento absurdo. Sinto-me insultada pelas folhas de papel em branco, sejam pautadas ou não, olham e debocham de mim, como se dissessem “estamos aqui, e passamos impunes, não vai fazer nada?”.
Tenho uma compulsão mórbida por escrever bobagens absurdas, sem importância poética ou vital, que passam pela total subjetividade dessa mente torta e desgovernada. Aliás, já ouvi dizer que muitos acham bobagem o que escrevem, tudo o que eu escrevo é bobagem, mas já me pergunto o que é bobagem, ou o que já não foi dito ainda?
Estou então em uma encruzilhada, de um lado a folha a zombar de minha ignorância prosaica, de outro o plágio que afirma já ter dito isso antes, um lado retratado por essa vontade latente que me impulsiona a escrever mais e mais bobagens, sem esquecer o leitor, o maior lesado em toda essa divagação.
Não tenho discernimento maduro o suficiente para poupar meus leitores de minha mão desaforada, que não suporta o insulto das folhas em branco, mas no meu íntimo sei por que elas zombam de mim, e me insultam, porque sabem que não tenho autoridade nenhuma sobre elas, por perceberem que não passo de um atento ao mundo que me cerca, se eu fosse um talento, certamente não fariam chacota de mim.

terça-feira, maio 08, 2007

Decepção



Ontem ouvi de alguém: “Estou decepcionado com você!”
Quero que me contem uma novidade!
As pessoas esperam muito mais de mim do que posso dar, é uma falta de respeito com essa pessoa cansada de ceder, bem querer e tentar. Já não há o que faça, ou o que não faça que não deixe alguém magoado, sofrido, atingido com algum ato ou ausência minha.
Queria apenas ser esquecida, por um décimo de milionésimo de segundo, jogar-me do alto de uma escada alta, de cabeça no chão, talvez assim deixassem-me em paz, deixassem de cobrar mais do que posso dar.
Deixem-me ascender meu cigarro, me dêem meus cinco minutos!
Estou decepcionada com muita gente e acreditem até eu mesma me decepciono, que coisa não é? Eu sirvo de torturadora de mim, cobro-me mais que qualquer estrangeiro.
O presidente me decepciona, a minha secretária me decepciona, minha máquina de escrever me decepciona, meu carro, minha imagem, desconhecidos, tanta coisa me frustra. Enfim, nascemos para nos decepcionar, quem ainda não sabe disso, aprenda, é uma lição importante!
Peço aos desavisados que leiam o aviso e não me cobrem depois:
Em algum dia, em qualquer momento vou te decepcionar, não espere muito de mim, pois não sei me doar. Sou ególatra, insensível, nada amável, pouco amiga. Cuidado, pois o que faço melhor é decepcionar, e se não tem meios de superar isso, me deixe quieta!


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sexta-feira, abril 13, 2007


Pequenas coisas

Odeio sentir-me frágil e atingida por pequenas coisas, pequenos aborrecimentos diários, que dentro de um copo vazio, seriam apenas mais uma gota. Acontece que estou farta e pequenas coisas me afetam mais que as grandes, tomando tom de transbordamento contínuo.
Sei que isso acontecerá todo os dias, enquanto não esvaziar os meus recipientes de mágoa e rancor, mas sei que se o fizer agora, mais cedo ou mais tarde terei que repetir movimento, o esvaziamento.
Seca de mágoas, nada me supita e é este estado de saturação que me leva ao desabafo, ficaria vazia de argumentos, me calaria mais uma vez. E o que mais faço é me calar, fechar meus sentidos para o que me abafa o peito e me faz chorar. Silenciados os soluços e lamentos, minhas palavras fazem sentido, tocam corações alheios, dançam na imaginação fértil de muitos.
Eis a ode de viver, um fardo pesado demais para meus olhos sensíveis, cansativo demais para meus ouvidos insanos e podre demais para minha boca de escárnio e mal-dizeres.
Dizem que a vida é feita de pequenas coisas, meu sofrimento sim, é feito delas.

quarta-feira, abril 04, 2007


Olhe, olhe mais uma vez
Tente apalpar
Descubra do que sou feito
Sou mais que aparento
Sou milhares de fragmentos
Juntos, encrostados
Em um só indivíduo
E me divido
Em todos os elementos
Em faces estranhas
Até para mim
Não reconheço
Minhas entranhas
Meus confins
Agressivo e frágil
Cálido e profano
Olhe-me,
Olhe-me mais uma vez.